sexta-feira, 22 de maio de 2009

ASPECTOS ERGONÔMICOS

1. Fatores de Movimento
Segundo LIDA (1993), diversas combinações de contrações musculares devem ser usadas para determinar um movimento. Conforme o total de músculos que participe de um movimento, este pode ter características e custos energéticos diferentes. Um trabalhador experiente se fatiga menos porque aprende a usar a combinação mais eficiente em cada caso, economizando suas energias.
De acordo com a tarefa a ser executada, os movimentos podem ter as seguintes características:
a) Precisão: os movimentos de maior precisão são realizados com as pontas dos dedos. Quando os desde fatigam-se, há uma tendência de substituí-los pelos movimentos do punho, cotovelo e ombros, com progressiva perda da precisão, substituída pela força. Isso pode ser observado em operações manuais altamente repetitivas.
b) Ritmo: os movimentos devem ser suaves, curvos e rítmicos. Acelerações bruscas, ou rápidas mudanças de direção são fatigantes, porque exigem maiores contrações musculares.
c) Movimentos Retos: o corpo, sendo constituído de alavancas que se movem em torno de articulações, tem uma tendência natural para executar movimentos curvos. Portanto, os movimentos retos são mais difíceis e imprecisos, por exigirem uma complexa integração de diversas juntas.
d) Terminações: os movimentos que exigem posicionamentos precisos, com acompanhamento visual, são difíceis e demorados. Sempre que possível, devem ser terminados com um posicionamento mecânico, como no caso da mão batendo contra um anteparo, ou botões e alavancas com posições discretas de parada.
1.1 Levantamento e Transporte Manual de Materiais
O manuseio de cargas tem sido uma das mais freqüentes causas de trauma no trabalho devido, especialmente, à grande variação individual da força e capacidade física, pelo que é necessário conhecer a limitação do trabalhador para o levantamento e transporte de carga, dimensionando as tarefas e equipamentos dentro desses limites.
A musculatura das costas é a que mais sofre com a tarefa. A coluna vertebral apresenta certas características anatômicas que influenciam diretamente a mecânica dos movimentos corporais. Ela é formada pelo empilhamento de uma série de vértebras - de baixo para cima: sete vértebras cervicais, doze vértebras torácicas, cinco vértebras lombares e vértebras do sacro fusionadas, constituindo o sacro-cóccix - com a interposição de discos invertebrais. As vértebras são solidamente unidas umas as outras, formando um conjunto bem estruturado. Quando do levantamento de cargas, os músculos dorsais muito curtos se contraem lentamente ao serem solicitados. A coluna vertebral funciona, então, como um braço de alavanca tendo como ponto de apoio o disco invertebral (L5-S1) que é relativamente frágil.
Os maiores problemas no trabalho de levantamento manual de carga estão no esforço além da capacidade física e no trabalho repetitivo.
Para determinar a capacidade de carga máxima repetitiva deve ser, primeiro, apurada a capacidade de carga das costas, que é o limite levantado corretamente pelo trabalhador. A carga recomendada para o trabalho repetitivo masculino é a metade da encontrada neste teste e para o feminino é a metade da capacidade repetitiva do homem.
A Norma Regulamentadora – NR - 17 do Ministério do Trabalho e Emprego – TEM - fixa limites máximos de quarenta quilos para levantamento de peso e sessenta quilos para transporte no caso de homens. Para mulheres, o art. 390 da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT – estabelece limites máximo de vinte e cinco quilos para esforços ocasionais e vinte quilos para trabalho continuo, independente da idade.
Abaixo de tais valores, a capacidade de carga é influenciada pela sua dimensão, facilidade de manuseio e localização em relação ao corpo, sendo que o esforço máximo é feito quando a carga está a trinta centímetros do corpo e trinta centímetros do solo, diminuindo gradativamente a capacidade de levantamento à medida que a carga se afasta do corpo, chegando a zero quando a noventa centímetros.
Para um levantamento de carga em segurança há que ser observado, em geral, o seguinte: manter a coluna ereta e usar o esforço da musculatura das pernas, deixando-as com abertura suficiente para manter equilíbrio; manter a carga de maneira simétrica, centralizada com relação à abertura das pernas e o mais próximo possível do corpo; iniciar o levantamento com a carga a quarenta centímetros do solo - se estiver abaixo disto, primeiro elevar até um suporte a quarenta centímetros do solo e então erguer em definitivo; remover todos os obstáculos que possam atrapalhar a movimentação; verificar as características físicas da carga – peso, medida, volume e tipo - os EPIs por ela exigidos; não torcer o corpo em momento algum; sempre que possível a carga deve contar com alças, buracos ou vãos para encaixe dos dedos; a freqüência de levantamento não deve ser superior a um por minuto; a atividade não deve exceder a uma hora e deve ser seguida de um período de descanso (ou tarefas mais leves) de 120% da duração da tarefa do levantamento; usar a ajuda de um colega ou auxílio mecânico se o peso da carga for superior a sua capacidade, ou seja, jamais levantar além de sua capacidade individual.
Muitas vezes, após o levantamento de uma carga, é necessário fazer o transporte manual da mesma. Geralmente é estressante para o trabalhador andar com carga e envolve um alto custo energético.
Daí a necessidade de se considerar, além dos cuidados para levantamento, também as recomendações a seguir: verificar o trajeto a percorrer, incluindo: distância, adversidades a remover (ex. entulhos), desviar (ex. colunas) ou enfrentar (ex. escadas) e o local da deposição; sempre se deslocar de frente para o caminho; no deslocamento lateral da carga, jamais torcer o corpo, mas sim voltá-lo completamente, rotacionando os pés na direção da disposição da carga; evitar carregar volumes grandes e desajeitados – uma pessoa carregando um volume muito alto, tende a erguer os braços, para evitar que dificulte o movimento das pernas, isso provoca fadiga adicional dos músculos do braços, ombros e costas, além de dificultar a visão.
Procurar, ao máximo, mecanizar as tarefas com o emprego de: polias, transportadores de correia, talhas empilhadeiras, carrinhos de transporte, elevadores, guindastes, pontes-rolantes, etc.
1.2 Puxar e empurrar cargas
O movimento de puxar e empurrar provoca tensões nos braços, ombros e costas.
As lesões nas costas representam aproximadamente 30% do total de lesões ocorridas em serviço. De todas as lesões nas costas relacionadas com o manejo manual de materiais, 20% são devidas às atividades de empurrar e puxar.
A capacidade para empurrar e puxar depende de diversos fatores como a postura, dimensões antropométricas, sexo, atrito entre o sapato e o chão e outros.
Em geral, as forças máximas para empurrar e puxar, para homens, oscilam entre 200 a 300N (Newton = Kg.m.s-2 ) e as mulheres apresentam 40 a 60% desta capacidade. Se for usado o peso do corpo e a força dos ombros para empurrar, consegue-se valores até 500N (N 9,81 = Kgf).
A atividade deve sempre ser auxiliada com carrinho e a postura correta é aquela que permite usar o peso do próprio corpo a favor do movimento.
Para puxar, o corpo deve pender para trás e, para empurrar, inclinar para frente. O atrito entre o calçado e o piso deve ser suficiente para permitir esses movimentos. Deve existir também espaço suficiente para as pernas a fim de que essas posturas se tornem possíveis. A distância horizontal entre o joelho mais afastado e as mãos deve ser 120 cm, no mínimo, tanto para puxar como para empurrar. Sob o carrinho há que existir um espaço para que um dos pés fique na mesma posição vertical das mãos.
Os carrinhos devem ter pegas em forma de barras, de modo que as duas mãos possam ser utilizadas para transmitir forças. As pegas devem ser cilíndricas, com diâmetros de 3 cm e comprimento de 30 cm ou mais. As pegas verticais devem situar-se entre 90 cm a 120 cm do piso, para permitir uma boa postura, tanto para puxar, como para empurrar. Em caso de pisos irregulares, os carrinhos devem ter rodas grandes e largas, sendo que duas rodas devem ser giratórias, para garantir uma boa manobra. A colocação de quatro rodas giratórias não é aconselhável, pois torna a trajetória do carro muito instável. A altura total do carrinho não deve exceder 130 cm, para que a maioria das pessoas possa enxergar sobre o mesmo (ver Fig. 3.41).

2. Fatores organizacionais e/ou temporais
A organização do trabalho deve corresponder às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado, considerando as normas de produção, o modo operatório, a exigência de tempo, a determinação do conteúdo de tempo, o ritmo de trabalho e conteúdo das tarefas.
Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do pescoço, ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da análise ergonômica do trabalho, deve ser observado o seguinte:
a) todo e qualquer sistema de avaliação de desempenho para efeito de remuneração e vantagens de qualquer espécie deve levar em consideração as repercussões sobre a saúde dos trabalhadores;
b) devem ser incluídas pausas para descanso;
c) quando do retorno do trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou superior a 15 (quinze) dias, a exigência de produção deverá permitir um retorno gradativo aos níveis de produção vigente na época anterior ao afastamento.
Uma boa organização do trabalho interage duração de jornada, necessidades pessoais dos trabalhadores e exigências da empresa.
As necessidades da empresa, costumeiramente, causam distúrbios fisiológicos, psicossomáticos e psicológicos, como irritabilidade e um estado constante de tensão, como acontece nos trabalhos em turno e com excessiva duração de jornada.
Para boa organização no trabalho podem ser apontadas flexibilidade no trabalho e rotatividade dos trabalhadores.

3. Fatores ambientais
Toda atividade de trabalho se dá em um espaço físico, que pode favorecer ou dificultar a realização das tarefas. Seus componentes podem ser fonte de conforto ou insatisfação, desconforto, sofrimento e doenças, por isso é mister a medição de ruídos, temperatura, velocidade e umidade do ar, iluminação natural/artificial, bem como, se necessário, aplicar correções ou compensações, como uso de EPIs (protetor auricular) e EPCs (exautores).
Para uma medição eficaz dos fatores ambientais é preciso, antes de qualquer procedimento, conhecer o local e modo de trabalho, pré definindo o momento e as técnicas de avaliação. A medição dos fatores ambientais são mais eficazes se partirem da atividade real, ou seja, quando é feita uma analogia entre o trabalho prescrito e a atividade real, a diferença entre a exposição estimada e a real é menor.
A ação dos profissionais de segurança e saúde ocupacional deve sempre privilegiar a busca conjunta de soluções para reduzir a exposição do trabalhador aos fatores de desconforto e aumentar o grau de satisfação e conforto por meio da reorganização do trabalho ou medidas técnicas, tais como eliminação ou redução da fonte de desconforto e tratamento do local, atentando que as mudanças no arranjo físico do ambiente ou substituição de equipamentos podem atenuar ou ampliar a não conformidade encontrada.

4. Equipamentos
Os seres humanos sempre procuraram adaptar suas ferramentas às suas necessidades, diminuindo o esforço, entretanto nas industrias modernas, com a rígida divisão entre planejamento e execução, o trabalhador quase não tem oportunidade de influir na escolha de seus equipamentos. Fatores como o preço tem mais peso na decisão da compra que a qualidade.
Isso leva a inadaptações e ao aumento da carga de trabalho. Uma má escolha pode penalizar os trabalhadores durante anos já que não se pode simplesmente jogar os equipamentos no lixo, prejudicando o desempenho eficiente da atividade.
Alguns conseguem modificar suas ferramentas adaptando-as às tarefas. Mas essa capacidade é limitada e, às vezes, até perigosa.
Levar em conta a opinião dos trabalhadores antes da compra tem mostrado um bom resultado em nossa prática de trabalho.
O equipamento deve facilitar a execução da tarefa e ser adequado a ela. Por exemplo: uma cadeira pode ser confortável para assistir a televisão, mas ser bastante inconveniente a uma secretária que deve ter acesso alternadamente ao arquivo, ao microcomputador e ao telefone para realizar sua tarefa. Logo, a cadeira deve ser adequada à natureza do trabalho da secretária: ter rodízios, encosto, ser estofada, permitir regulagens, ter apoio para os braços etc. Não há uma cadeira “ergonômica” para todo e qualquer tipo de tarefa.
Qualquer mudança nos equipamentos deve ser fundamentada pela observação da natureza do trabalho (exigências da tarefa) e das características dos trabalhadores. Por exemplo, se um painel de controle é colocado em posição excessivamente alta para a altura do trabalhador, pode-se exigir que o painel seja colocado na altura dos olhos, facilitando a leitura dos dados. Um comando que exija excessiva abdução do membro superior e elevação do ombro pode ser mudado de modo a permitir ao membro superior que volte à posição neutra entre um acionamento e outro.
Citando Avery (1985) apud West's e Wood's (1994), SANTANA (1996) relata a importância da ergonomia para combinar produtivamente trabalhadores e equipamentos e estabelecer um conjunto de princípios para maximizar a produtividade: o projeto e arranjo do equipamento deve ser tal que o uso do equipamento exija o mínimo de esforço físico; somente informações essenciais devem ser providas para o equipamento e estas devem ser o mais claro possível; os avisos de controle dos equipamentos devem relatar precisamente as funções controladas, ser de fácil identificação, colocados de maneira lógica, e em harmonia com os mostradores em operação; o equipamento deve ser selecionado com base na necessidade de utilização específica, agrupado em combinações mais utilizadas, arranjados de forma a permitir o uso tanto pela esquerda como pela direita e projetado para propiciar o máximo de produtividade, e ao mesmo tempo utilizar mais eficazmente os atributos mentais e físicos dos trabalhadores levando em conta as dimensões e forças do trabalhador.

5 Fatores postura e alcance
5.1 Posturas do corpo no trabalho
Um dos aspectos fundamentais a se considerar no estudo ergonômico do Posto de Trabalho é a postura em que o trabalhador exerce sua função.
De modo geral as principais posturas ocupacionais são sentado, em pé e deitado. Cada postura exige do organismo esforços diferentes e provocam efeitos diferentes.
A mudança da postura durante o trabalho é importante para a saúde do trabalhador, pois possibilita variação de esforço nas articulações e músculos, além da redução da carga estática.
a) Postura em pé: Altamente fatigante porque exige um trabalho estático da musculatura. Quem exerce trabalho dinâmico em pé geralmente apresenta menos fadiga do que aquele que permanece estático ou com pouca movimentação. Ao trabalhar encostado em algum objeto à frente do corpo, atentar para a necessidade de espaço suficiente para encaixar os pés sem afastar o corpo do objeto, para que não exista a necessidade de flexionar indevidamente a coluna.
B) Postura deitada: Apesar de ser a ideal para descanso e eliminação dos resíduos que provocam fadiga, quando a posição deitada é assumida para realizar algum trabalho pode ser tornar extremamente fatigante, sobretudo para a musculatura do pescoço.
c) Postura sentada: exige atividade muscular do dorso e abdômen para se manter. Grande parte das atividades são realizadas nesta posição. Os assentos das cadeiras devem permitir mudanças freqüentes de posturas para retardar o aparecimento da fadiga. Quando o trabalho sentado dá pouca margem de movimentação ocorre carga estática sobre certos segmentos corporais, podendo produzir fadiga. A posição sentada, em relação à em pé, apresenta a vantagem de liberar os braços e pés para tarefas produtivas, permitindo grande mobilidade desses membros.
Sempre que possível, as tarefas que exigem um acompanhamento visual contínuo, como no caso de leituras e inspeções de qualidade, devem ser feitas em superfícies inclinadas com o objetivos de aproximar o trabalho dos olhos. Caso contrário é necessário inclinar a cabeça e o tronco para frente. No caso de leitura, a inclinação recomendada é de 45º. e, para escrever, a inclinação pode ser de 15º. Inclinações maiores são inconvenientes porque não permitem apoio dos braços e os objetos escorregam.
Constantemente projetos inadequados de máquinas, assentos ou bancadas de trabalho obrigam o trabalhador a usar postura inadequada. Se esta for mantinda por longo tempo, pode provocar fortes dores localizadas no conjunto de músculos solicitados para manutenção das posturas.
5.2 Limites de alcance
No estudo do posto de trabalho a distribuição espacial dos materiais em geral é fundamental para o comporto do trabalhador.
Esta distribuição espacial se chama Espaço de Alcance, que é o espaço usado durante o trabalho para manuseio dos controles, máquinas, ferramentas, etc.
O alcance dos braços se refere ao espaço de Alcance Horizontal e Vertical.
O alcance horizontal é a medida alcançada pelo homem ao esticar os braços a frente do corpo sem precisar se inclinar para frente.
O alcance ótimo é o espaço existente dentro da área formada ao levantar os braços na altura dos ombros, dobrar em ângulo de 90º. e girar à frente do corpo. Nele deve ser colocado os objetos, peças, equipamentos de uso constante.
O alcance máximo é aquele atingido quando os braços, levantados à altura do ombro e esticados horizontalmente, são girados à frente do corpo. Nele devem ser dispostos os objetos, peças e equipamentos de uso menos freqüente que os dispostos no alcance ótimo.
A área ótima de trabalho, ou seja, aquela mais indicada para trabalhar e realizar tarefas que exigem maior precisão, é encontrada da seguinte maneira: com os braços estendidos ao longo do corpo, dobra-os em ângulo de 90º. O espaço então compreendido entre os dois braços é a área ótima de trabalho.
O alcance vertical é o espaço alcançado ao erguer os braços acima da linha do ombro, sem flexioná-lo, sendo o máximo obtido ao dobrar as mãos como se tocando uma prateleira.
Quanto as pernas não há alcance horizontal e vertical, mas apenas alcance ótimo e máximo. O ótimo é aquele embaixo dos pés com as pernas esticadas, sem flexão, na direção da coluna. O máximo é aquele embaixo dos pés com as pernas esticadas à frente do corpo, sem a necessidade de flexionar joelho ou pernas.

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