quarta-feira, 9 de setembro de 2009

ASPECTOS ERGONÔMICOS QUE CAUSAM ESTRESSE NO AMBIENTE DE TRABALHO DA CONSERVAÇÃO RODOVIÁRIA - Parte 8 Medidas Corretivas e Preventivas

A intervenção ergonômica na construção pesada é mais difícil do que nas outras indústrias. São vários os fatores que contribuem para isto: o local de trabalho é mudado todo dia; há grande rotatividade dos trabalhadores; e os proprietários da obra alegam não terem condições de contratarem um especialista em ergonomia.
É necessária uma intervenção que busque modificar o complexo quadro de exigências da construção civil, melhorando as condições de trabalho nos canteiros. É justo e meritório que sejam privilegiados o conforto, a segurança e a saúde do homem, adaptando-se o posto de trabalho às características e às necessidades pessoais ou do grupo.
Das situações de trabalho observadas, muitas são inevitáveis e imutáveis, inexistindo outra maneira de se executar a tarefa. Nestes casos a solução é desenvolver práticas que amenizem os prejuízos sobre o trabalhador, sendo passíveis de aplicação as seguintes medidas: melhor organização do trabalho, manual de procedimentos, treinamento no local de trabalho, pausa no trabalho, melhor adaptação das ferramentas e posturas de trabalho.

MELHOR ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
É necessário adaptar o ritmo de trabalho ao limite físico e psicológico dos colaboradores.
Alternativa para compensar a exigência por cumprimento de metas é premiar os colaboradores pelos resultados positivos, estimulando-os a trabalhar com prazer e não sob pressão da obrigação.
Para evitar pressão em cumprir toda a programação dentro do horário fixo existente para o trabalho, é interessante montar Banco de Horas para que os colaboradores tenham um prazo elástico que permita o trabalho com calma e perspicácia.
Com isto, os prejuízos diminuem e a produtividade aumenta, pois laborando com calma, cai o índice de erro e com mais tempo para produzir, é possível cumprir todas as metas impostas. Sem contar que a possibilidade de compensar horas faltantes com o Banco de Horas aumenta a satisfação do colaborador em trabalhar para criar uma reserva de horas.

MELHOR ADAPTAÇÃO DAS FERRAMENTAS, EQUIPAMENTOS, MAQUINÁRIOS, MOBILIÁRIO E POSTURAS DE TRABALHO
Analisando o trabalho diário das equipes, é possível apurar os vícios de postura mais praticados e os equipamentos, maquinários e ferramentas não adaptados ao porte físico dos colaboradores.
O vício postural mais comum é o trabalho arcado, especialmente quando realizadas tarefas próximas ao solo, como capina, retoque de meio-fio, lavagem e manutenção dos cones sinalizadores, troca de defensa metálica. Em seguida, o trabalho com os braços estendidos desnecessariamente acima do corpo, como no caso de lavagem de placas aéreas. Há que se considerar, ainda, a má postura adotada no caminhão de transporte de pessoal e na operação de máquinas como a retroescavadeira, martelete, compactador manual, etc, os quais, inclusive, têm o agravante da trepidação que também prejudica ergonomicamente o trabalhador.
Para resolver a questão da postura, é necessária uma análise ergonômica das atividades desenvolvidas, esmiuçando o posicionamento exigido por cada tarefa, bem como o alcance dos controles e apoios.
A etapa seguinte, é realizar um estudo das posturas que podem ser adotadas em substituição às não ergonômicas, bem como as modificações passíveis de aplicar no trabalho e nos equipamentos não ergonômicos, de maneira a não prejudicar a produção e/ou o colaborador.
Feito isso, orientar e conscientizar o trabalhador quanto aos benefícios da posição correta, bem como as conseqüências dos vícios posturais e os benefícios de sua correção.
Com colaboração dos trabalhadores, pequenas alterações no modo de trabalho e adaptações nas ferramentas ou equipamentos já são suficientes para resolver, ou ao menos atenuar, os problemas ergonômicos, como adaptação dos assentos das cabines de transporte, colocação de suporte para elevar os cones sinalizadores durante a lavagem ou o rolo de arame enquanto desenrola, adaptação de apoio para o joelho no trabalho de retoque de meio-fio, de modo que o trabalhador possa ajoelhar para a realização da tarefa, em vez de arcar o corpo em direção do solo.
Salienta-se que algumas posturas, ainda que inapropriadas, são as únicas passíveis de realização para a tarefa desenvolvida, ou as menos agressivas, como a do trabalho agachado, praticada especialmente para a troca de defensas metálicas ao longo da rodovia.
O mesmo acontece com tarefas realizadas com auxílio de maquinário, principalmente os que causam trepidação, e não podem ser substituídos ou adaptados ou a adaptação dos controles e apoios não é suficiente para garantir uma postura ergonômica.
Nestes casos, faz-se importante a pausa no trabalho ou rodízio de função, para aliviar a musculatura e o cansaço, lembrando que o trabalho não pode ser considerado repetitivo, pois está sempre alternando.
Com relação aos assentos dos caminhões, a melhor alternativa possível na empresa é a já implantada colocação de bancos individuais, aspirais, com mecanismo de adaptação tanto vertical quanto horizontal.
Para levantamento e transporte de cargas pesadas, auxílio mecânico de um caminhão Muck por equipe e uma Retroescavadeira adaptada.

PAUSA E RODÍZIO DE FUNÇÃO
Como algumas tarefas não admitem alterações nem possibilitam adaptações perfeitamente ergonômicas, é necessário implantar pausa e/ou rodízio de função.
Para as pausas, deve ser respeitado descanso de 10 minutos a cada 50 trabalhados. E quando isto for inviável, a solução indicada é alternar as funções entre os colaboradores, lembrando que para a eficácia da medida é necessário treinar mais de um Operador de Equipamento e Homem Bandeira por equipe e ensinar a todos as funções básicas.
Observar que no tempo de pausa é obrigatório compensar as atividades não ergonômicas, ou seja, quem fica muito tempo de pé deve, nesse tempo de descanso, sentar um pouco para descansar as pernas e os pés. Caso contrário, a medida será ineficaz.

TREINAMENTO NO LOCAL DE TRABALHO
Ao contrário do que popularmente se imagina, os trabalhadores da construção civil são preocupados com sua saúde e bem estar, então, se ensinados a trabalhar de modo correto, respeitarão as regras de bom grado.
Considerando que o trabalho se desloca ao longo da rodovia e varia constantemente, intercalando exigências e condições, o treinamento nos próprios locais de trabalho é mais indicado que os métodos tradicionais de palestras monótonas e cansativas, que não conseguem alcançar com perfeição a realidade da rotina laborativa, além de obrigarem o trabalhador a memorização mecânica de conteúdos narrados. Sem contar que a experimentação prática da informação, ao mesmo tempo em que a recebe, torna mais proveitosa sua absorção, de modo que o trabalhador não esquece o que aprendeu e acaba agindo de maneira automática.
Um treinamento ergonômico que se mostra eficaz inclui:
 Definição de ergonomia;
 Relato visual das posturas praticadas, com ajuda dos colaboradores mostrando o modo como trabalham no dia a dia;
 Solicitação para que os colaboradores apontem onde sentem dores e opinem sobre as posturas, movimentos e condições que considerem desgastantes e apontem soluções;
 Indicação das posturas, movimentos e condições tecnicamente desfavoráveis e as medidas corretivas possíveis de aplicação no caso;
 Apresentação do resultado esperado pelas medidas corretivas indicadas, mostrando, se possível, os já alcançados dentro da própria empresa.
Ressalta-se que há pouco tempo um acidente envolvendo o transporte manual de carga de modo inadequado trouxe preocupação à empresa alvo: dois colaboradores transportavam, em conjunto, uma forma de New Jersey (barreira de concreto) com um deles se deslocando de costas e com a barra da calça esbarrando no chão, quando escorregou, caiu, bateu a cabeça e ainda teve sobre si o peso da carga.
Toda a equipe foi submetida a reciclagem de treinamento para transporte de carga e o assunto passou a integrar o Diálogo de Segurança da empresa. Convencionou-se também que as reciclagens seriam aplicadas com menor intervalo de tempo, buscando fixar no trabalhador o modo correto de agir. Em complementação, a distribuição de um pequeno Manual de Procedimentos.

MANUAL DE PROCEDIMENTOS
Para que a transmissão de conceitos não seja apenas verbal, o que facilita o esquecimento ao longo do tempo, é ideal a distribuição aos colaboradores de um Manual de Procedimentos Padronizados, que leve em consideração as características das tarefas, elaborado com letras grandes, colorido e ilustrado com fotografias dos próprios trabalhadores em situações cotidianas no exercício de suas atividades.
Para montar o manual, propõe-se seguintes itens:
 conceitos importantes, incluindo política da qualidade da empresa, encadeamento das funções no canteiro de obras, necessidade de organização do trabalho;
 passos da tarefa;
 exigências da tarefa em termos de agressividade do ambiente, das posturas exigidas e as mais importantes exigências cognitivas e mentais;
 riscos das tarefas e questões de segurança;
 necessidade de vistoria e manutenção de máquinas e equipamentos
 procedimento em caso de acidentes;
 levantamento e transporte de cargas em segurança;
 atos inseguros proibidos e a melhor maneira de desempenhar cada atividade;
 como evitar o estresse.

MELHOR ADAPTAÇÃO ÀS CONDIÇÕES AMBIENTAIS
Frequentemente as equipes são obrigadas a trabalhar sob condições ambientais desfavoráveis, como sol forte, chuva ou trabalho noturno.
Não há como controlar o fator natureza, nem tampouco adiar tarefas essenciais como tampa buraco ou troca de placas de sinalização referente a aumento de tarifa de pedágio.
A alternativa é adaptar às condições desfavoráveis da melhor maneira, dando ao trabalhador segurança e conforto ao trabalhar.
Para o sol, a alternativa é o uso de boné árabe, uniforme de manga longa de algodão, óculos com lentes escuras e protetor solar.
Para a chuva, capa de chuva longa mais bota de borracha, de modo que o trabalhador fique protegido por inteiro.
No trabalho noturno, é usado o bastão sinalizador individual, sinalizadores noturnos acoplados a cones refletivos e apoio dos veículos com sinalização noturna da contratante, bem como o carro próprio como auxílio de iluminação com os faróis, visando maior visibilidade e segurança do colaborador.

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