Quais as principais causas de adoecimento entre os trabalhadores das indústrias?
Considera-se que uma das principais causas de adoecimento, falta ao trabalho e incapacidade de realizar as atividades laborais, entre os trabalhadores do setor industrial, são as lesões por esforço repetitivo (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT). De acordo com o estudo “Diagnóstico de saúde e estilo de vida”, realizado pelo SESI Nacional, os principais causadores dos males que acometem os trabalhadores da indústria brasileira são a pressão alta, depressão e obesidade.
Ainda, segundo a mesma pesquisa: “O alto índice de deprimidos está relacionado à organização do trabalho, principalmente nos últimos tempos, com a ameaça de desemprego diante da crise financeira”. Sabe-se que os doentes com LER (Lesão por Esforço Repetitivo) tendem a sofrer de depressão, diante da desqualificação da doença, já que o sintoma é a dor. Muitos trabalhadores não relacionam a dificuldade de relacionamento, o cansaço frequente, e o sono difícil como sintomas de depressão.
Quais os fatores que levam a essas ocorrências?
As transformações recentes nos processos produtivos das indústrias levam a uma maior intensificação do trabalho, com aumento no esforço requerido de tendões, músculos e articulações, levando a um importante aumento na incidência dessas lesões ocupacionais no trabalhador.
Há ainda a questão da organização do trabalho que influi diretamente sobre o bem-estar dos trabalhadores. A falta de condições adequadas de trabalho é prejudicial tanto para os trabalhadores, aumentando a incidência do adoecimento e absenteísmo laboral (falta ao trabalho) entre eles, como para os empregadores, com a diminuição da produtividade e competitividade da indústria.
Outros fatores ergonômicos também são importantes, como no caso de equipamentos mal projetados, que não podem ser ajustados de acordo com as diferenças individuais de cada empregado, e que por isso tornam sua utilização desconfortável, predispondo os trabalhadores a danos físicos e psíquicos.
Como se caracteriza o esforço físico exigido dos trabalhadores das indústrias?
Atualmente, a progressiva automação das atividades industriais tem exigido que os trabalhadores realizem tarefas que requerem alta repetição de movimentos, principalmente dos membros superiores (ombros, braços e mãos), além de posturas fixas (estáticas) de todo o corpo, comprometendo, de muitas maneiras, o sistema músculo-esquelético. O uso excessivo dos músculos e articulações leva a pequenos traumas que se repetem durante a jornada de trabalho, provocando as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Ósteo-musculares Relacionados ao Trabalho (DORT).
Portanto, pode-se perceber que o emprego de novas tecnologias frequentemente não é utilizado no sentido de aliviar a carga de trabalho ou de permitir uma maior autonomia do trabalhador na realização de suas tarefas, mas sim, no sentido de impor uma maior exigência do ritmo e frequência de trabalho, o que está estritamente relacionado à atual expansão das LER/DORT (MERLO, 2000).
Quais as consequências das LER/DORT para os trabalhadores?
Na maioria dos trabalhadores acometidos por LER/DORT a doença evolui para uma forma crônica e com presença permanente de dor. Quando esta lesão se torna crônica, produz alterações consideráveis na vida destas pessoas, impossibilitando-os de realizar, não só sua atividade profissional, mas também suas atividades diárias. Os trabalhadores acometidos por tais doenças encontram-se em uma situação de permanente sofrimento físico e psíquico (MERLO et al, 2003).
Quais os sintomas das LER/DORT?
Geralmente os sintomas são de evolução insidiosa (sem diagnóstico aparente ou difícil de ser diagnosticado) até serem claramente percebidos. Com frequência são desencadeados ou agravados após períodos de maior quantidade de trabalho ou jornadas prolongadas e em geral, o trabalhador busca formas de manter o desenvolvimento de seu trabalho, mesmo que à custa de dor. A diminuição da capacidade física passa a ser percebida no trabalho e fora dele, durante as atividades cotidianas.
Como essas lesões manifestam-se?
As LER/DORT são as manifestações de lesões decorrentes da utilização excessiva, imposta ao sistema músculo-esquelético, e da falta de tempo para a sua recuperação. Lesões neuro-ortopédicas como as tendinites (inflamação dos tendões) e as compressões de nervos periféricos (síndrome do túnel do carpo) são exemplos de lesões relacionadas ao trabalho.
Quais são os fatores de risco dessas lesões?
Os fatores de risco para o surgimento das LER/DORT envolvem aspectos físicos, psicoemocionais e da organização do trabalho, os quais comumente interagem entre si. Entre eles temos:
•Execução de movimentos repetitivos durante o trabalho;
•Falta de rotatividade de tarefas;
•Falta de pausas durante a jornada de trabalho;
•Posturas desconfortáveis adotadas pelos trabalhadores;
•Realização de esforço muscular excessivo;
•Posto de trabalho e equipamentos ergonomicamente inadequados;
•Estresse físico e mental; etc.
O que pode ocorrer nos casos mais crônicos?
Nos casos mais crônicos e graves, pode ocorrer: sudorese (suor) excessiva nas mãos e alodínea (sensação de dor como resposta a estímulos não nocivos em pele normal).
Como as indústrias podem prevenir o adoecimento de seus trabalhadores?
A prevenção do adoecimento do trabalhador é de grande importância para a indústria, pois um trabalhador doente torna-se ineficiente e improdutivo. Para tanto devem ser realizadas ações que visem a estimular o bem-estar físico e psicossocial dos empregados, evitando assim o surgimento de doenças ocupacionais. Entre as medidas gerais que podem ser aplicadas para alcançar este objetivo, pode-se citar:
•Ergonomia – através de mudanças no ambiente de trabalho e no modo de produção (organização do trabalho). A intervenção ergonômica dentro de uma empresa deve ser realizada de forma a promover mudanças que busquem solucionar necessidades específicas de cada atividade. Para tanto, é preciso que, inicialmente, se realize a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) por um profissional habilitado (ergonomista) e através desta possam ser colocadas em prática as alterações mais adequadas e efetivas para cada caso. Medidas como a implantação de pausas durante o trabalho, rotatividade de tarefas e mecanização de atividades que exijam sobrecarga muscular do trabalhador, como o levantamento de carga, são exemplos de alterações benéficas para a saúde dos empregados;
•Educação dos trabalhadores – ensinando sobre como realizar suas tarefas de forma correta e segura, evitando lesões e acidentes do trabalho;
•Ginástica Laboral – o incentivo à prática de atividade física leva a melhora da saúde geral do indivíduo e a integração social dos trabalhadores, beneficiando os aspectos físicos e psicológicos durante o trabalho.
O que provoca essas lesões?
Vários fatores provocam essas lesões, dentre elas destacamos:
•Postos de trabalho que forçam o trabalhador a adotar posturas desconfortáveis, a suportar cargas excessivas e a se comportar de forma a causar ou agravar afecções músculo-esqueléticas;
•Exposição a vibrações de corpo inteiro, ou do membro superior, pode causar efeitos vasculares, musculares e neurológicos;
•Exposição ao frio pode ter efeito direto sobre o tecido exposto e indireto pelo uso de equipamentos de proteção individual contra baixas temperaturas (ex. luvas);
•Exposição a ruído elevado, entre outros efeitos pode produzir mudanças de comportamento;
•Pressão mecânica localizada provocada pelo contato físico de cantos retos ou pontiagudos de objetos, ferramentas e móveis, com tecidos moles de segmentos do corpo e trajetos nervosos provocando compressão de estruturas moles do sistema músculo-esquelético.
•Posturas inadequadas podem causar LER/DORT. Estas posturas possuem três características que podem estar presentes simultaneamente:
- Posturas em que as articulações são forçadas até o seu limite de movimento.
- Força da gravidade impondo aumento de carga sobre os músculos e articulações.
- Posturas que modificam a geometria músculo-esquelética e podem gerar estresse sobre tendões, músculos e articulações.
•Sobrecarga mecânica músculo-esquelética. Entre os fatores que influenciam a carga músculo-esquelética, encontramos: a força, a repetição, a duração da carga, o tipo de preensão, a postura e o método de trabalho. A carga músculo-esquelética pode ser entendida como a carga mecânica exercida sobre seus tecidos e inclui:
- Tensão muscular;
- Pressão externa sobre músculos e nervos;
- Fricção dos tendões sobre as estruturas ao seu redor;
- Irritação dos nervos.
Como essas lesões podem ser diagnosticadas?
Observando-se:
•Dor localizada, irradiada ou generalizada;
•Desconforto;
•Fadiga;
•Sensação de peso;
•Formigamento;
•Dormência;
•Sensação de diminuição de força;
•Inchaço;
•Enrijecimento muscular;
•Choques nos membros;
•Falta de firmeza nas mãos.
É necessário um profissional médico para esse diagnóstico?
Sim, é importante que estas lesões sejam diagnosticadas por um médico, pois com sua experiência e formação ele pode buscar dados por meio da história clínica, levando em consideração as atividades realizadas pela pessoa tanto no trabalho, quanto no lazer. Em seguida realiza um exame físico geral, dedicando especial atenção aos locais afetados.
Existem exames complementares para auxiliar o médico no diagnóstico?
Exames complementares podem ser solicitados para esclarecer o diagnóstico, incluindo: radiografias, ecografias, eletroneuromiografia, ressonância magnética e exames laboratoriais para condições reumáticas, dentre outros.
Como é feito o tratamento dessas lesões?
O tratamento da LER/DORT têm início após um diagnóstico correto e deve buscar uma abordagem integrada, ao invés de tratar somente a sintomatologia:
•Medidas ergonômicas visam a melhorias no local de trabalho que não induzam ao desenvolvimento das LER/DORT. Por vezes, pequenas adaptações fazem grandes diferenças. As pausas programadas durante a jornada de trabalho podem ser consideradas atitudes ergonômicas benéficas.
•Exercícios físicos são benéficos, incluindo tanto exercícios aeróbicos como exercícios de alongamento, mas devem sempre ser orientandos por profissional especializado.
•A fisioterapia é muitas vezes empregada na redução da dor e na recuperação da função e dos movimentos do membro afetado pela LER/DORT.
•Medicamentos antiinflamatórios e analgésicos são utilizados para alívio da dor aguda e crônica. Devem ser utilizados com cautela e somente com recomendação médica.
•Medicamentos corticóides são antiinflamatórios mais potentes, porém com mais efeitos colaterais, merecendo atenção médica redobrada.
•Medicamentos antidepressivos e outros agentes com ação no sistema nervoso central são utilizados em quadros de dores crônicas provocadas pelas LER/DORT ou quando associadas a sintomas de humor e/ou ansiedade.
•Intervenção cirúrgica é indicada para casos associados a más formações e deformidades ósteo-musculares irreversíveis ao tratamento medicamentoso.
Como prevenir a ocorrência dessas lesões?
•Identifique tarefas, ferramentas ou situações que causam dor ou desconforto e converse sobre elas com os profissionais da segurança e saúde do trabalho que atendem a sua empresa e com sua chefia;
•Faça revezamento nas tarefas;
•Procure aprender outras tarefas que exijam outros tipos de movimento;
•Faça pausas obrigatórias de 10 minutos a cada 50 minutos trabalhados, evitando ultrapassar 6 horas de trabalho diário de digitação;
•Auxilie na identificação das posições incorretas e forçadas no trabalho e ao mesmo tempo, procure dar sugestões sobre o que fazer para melhorar as condições de trabalho;
•Informe claramente à sua chefia quando o tempo determinado para realizar uma tarefa for reduzido;
•Diante dos sintomas de dor ou formigamento nos membros superiores, procure um médico;
•Procure conhecer os recursos de conforto do seu posto de trabalho;
•Procure adotar posturas corretas;
•Levante-se de tempos em tempos, ande um pouco, espreguice-se, faça movimentos contrários àqueles da tarefa.
Quais os exercícios ideais para prevenção e ou tratamento das LER/DORT?
Alguns exercícios são indicados para prevenção e auxiliam no tratamento das LER/DORT, como estes:
•Abra as mãos e encoste as palmas em "posição de rezar". Com os dedos juntos flexione os punhos e comprima uma mão contra a outra. (frente do peito);
•Aperte dedo contra dedo, alongando-os um por um (polegar contra polegar, indicador contra indicador e assim por diante). Pode ser feito com todos os dedos ao mesmo tempo;
•Cruze o dedo com dedo (gancho) e puxe alternando-os. Ex. Polegar com médio, anular com mínimo. A variedade fica por conta de cada um;
•Feche bem as mãos como se estivesse segurando algo com força. Em seguida estique bem os dedos;
•Abra os dedos afastando-os o máximo possível. Feche os dedos apertando-os com a mão esticada;
•Faça "ondas" com a mão e os dedos. Como se a mão estivesse serpenteando no ar;
•Balance as mãos;
•Gire os punhos em círculo, com as mãos soltas, no sentido horário e anti-horário.
Veja mais sobre este assunto:
O Trabalho entre Prazer, Sofrimento e Adoecimento: A Realidade dos Portadores de Lesões por Esforços Repetitivos.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010271822003000100007&script=sci_arttext&tlng=in
A Baixa Adesão ao Programa de Ginástica Laboral: Buscando Elementos do Trabalho para Entender o Problema.
http://www.fundacentro.gov.br/rbso/BancoAnexos/RBSO%20114%20Gin%C3%A1stica%20Laboral.pdf
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